A deputada federal Roseana Sarney, de 72 anos e filha do ex-presidente José Sarney, revelou em vídeos nas redes sociais os desafios físicos e emocionais de seu tratamento contra um câncer de mama triplo negativo — um dos subtipos mais agressivos da doença. Diagnosticada em agosto de 2025, ela já passou pela 11ª sessão de quimioterapia, marcada para 10 de novembro, e enfrenta efeitos colaterais severos, como uma reação alérgica persistente que a deixa coçando desde a perna até as mãos. "Nunca imaginei na vida que uma coceira incomodasse tanto", disse ela em um vídeo publicado no domingo, 9 de novembro. Mas mesmo assim, mantém a fé: "Deus, Nossa Senhora, todos os santos e todos vocês estão torcendo por mim. Vamos em frente."
Um tratamento que desgasta o corpo, mas não a alma
O tratamento de Roseana Sarney segue o protocolo padrão para tumores triplo negativos: quimioterapia neoadjuvante, que visa reduzir o tumor antes da cirurgia. A cada sessão, os efeitos se acumulam. Perda de cabelo total, náuseas, fadiga extrema e, agora, uma alergia que dura três semanas seguidas. Ela rasparam a cabeça — não por moda, mas por necessidade. "Não adianta tentar esconder. É melhor assumir", afirmou em uma postagem no Instagram, onde compartilha diariamente detalhes do seu cotidiano hospitalar. A perda dos fios, muitas vezes vista como símbolo de fragilidade, tornou-se para ela um ato de coragem. "A gente não perde a dignidade quando perde o cabelo. A gente ganha força quando se mostra como é." Ela não esconde o cansaço. "Essas duas últimas semanas não foram fáceis. Aliás, não tem sido fácil enfrentar o câncer de mama triplo negativo. O tratamento é longo, maltrata. Mas temos que enfrentar." O tom, porém, nunca é de derrota. Pelo contrário: é de resistência. As mensagens de apoio que recebe — centenas por dia — são, segundo ela, "um conforto que vocês não imaginam". E não são só palavras. São cartas de mulheres que já passaram por isso, mães que temem o diagnóstico, filhas que querem saber se há esperança. "Elas me mandam fotos de suas cicatrizes. Isso me faz sentir menos sozinha."Por que o câncer triplo negativo é tão temido — e ao mesmo tempo tratável
O câncer de mama triplo negativo representa cerca de 15% dos casos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). É chamado de "triplo negativo" porque as células tumorais não expressam receptores de estrogênio, progesterona ou HER2 — três alvos comuns para tratamentos hormonais ou biológicos. Isso torna os medicamentos tradicionais ineficazes. Mas aqui está o paradoxo: embora seja agressivo e rápido, ele responde muito bem à quimioterapia — especialmente quando combinada com imunoterapia, como o pembrolizumabe, que já é padrão em muitos hospitais públicos e privados desde 2023. O oncologista Wesley Fontes, consultado pela imprensa, explicou: "Quando o tumor é detectado antes de 2 cm e sem envolvimento de gânglios, a chance de cura com quimioterapia + imunoterapia pode chegar a 80%. E se a paciente tiver resposta patológica completa — ou seja, nenhum tumor restante na cirurgia — a sobrevida em cinco anos sobe para 90%." O caso de Roseana Sarney é um exemplo disso: o tumor foi identificado em estágio inicial, e a resposta ao tratamento tem sido positiva, mesmo com os efeitos colaterais.Um exemplo que muda vidas
Antes do diagnóstico, Roseana Sarney atuava como secretária para assuntos legislativos e mantinha uma agenda intensa. Agora, está licenciada da Câmara dos Deputados. Mas sua voz não calou. Pelo contrário: se tornou mais potente. Durante o Outubro Rosa, ela usou sua plataforma para lembrar: "Quanto mais cedo o tumor for descoberto, maiores as chances de cura." E não foi só um discurso. Ela incentivou mulheres a fazerem mamografias, a buscarem segundo parecer, a não terem vergonha de falar sobre dor, medo e insegurança. Muitas seguidoras já relataram ter feito exames após verem seus vídeos. Uma mulher de 48 anos, de São Luís, disse ter descoberto um nódulo de 1,2 cm após assistir ao vídeo em que Roseana mostrou a cicatriz da biópsia. "Eu sempre achei que era só uma cisto. Mas ela me fez olhar com outros olhos", contou ao jornal O Estado do Maranhão. Esse é o impacto real: não só na saúde individual, mas na cultura coletiva.O que vem a seguir?
A próxima etapa do tratamento de Roseana Sarney é uma cirurgia, ainda sem data definida, mas prevista para os próximos meses. Após isso, pode haver radioterapia, dependendo da resposta do tumor. Mas o que mais importa agora é a continuidade do tratamento. Ela já disse que não vai parar. "Se preciso for, farei 20 sessões. 30. O que importa é que eu estou viva, e estou lutando." Ela também não esconde a preocupação com o futuro. "E se eu não voltar? E se eu não conseguir voltar à política?" Mas logo corrige: "Não penso nisso. Penso em hoje. Em respirar. Em agradecer."Como o caso de Roseana Sarney muda o debate sobre câncer de mama no Brasil
O Brasil ainda enfrenta grandes desafios no diagnóstico precoce do câncer de mama. Segundo o INCA, 60% dos casos são diagnosticados em estágios avançados — e isso reduz drasticamente as chances de cura. A visibilidade de uma figura tão conhecida como Roseana Sarney quebra tabus. Mulheres de todas as classes sociais, especialmente no Norte e Nordeste, onde o acesso à saúde é mais limitado, agora veem um rosto conhecido passando pelo mesmo medo que elas. Ela não é uma celebridade que faz campanha por um dia. É uma mulher que, dia após dia, mostra a realidade do tratamento: a coceira, o cansaço, o choro no banheiro, o sorriso forçado para a câmera. E isso, mais do que qualquer discurso, salva vidas.Frequently Asked Questions
O que é câncer de mama triplo negativo e por que é mais agressivo?
O câncer de mama triplo negativo é um subtipo que não possui receptores de estrogênio, progesterona ou HER2, o que torna os tratamentos hormonais e biológicos tradicionais ineficazes. Por isso, depende quase que exclusivamente da quimioterapia. É mais agressivo porque cresce rápido, se espalha cedo e tem maior risco de recorrência nos primeiros anos — mas responde bem à quimioterapia combinada com imunoterapia, especialmente se diagnosticado precocemente.
Roseana Sarney tem chances reais de cura?
Sim. Apesar da agressividade do tumor, ela foi diagnosticada em estágio inicial e está respondendo bem à quimioterapia. Se a cirurgia resultar em resposta patológica completa — ou seja, nenhum vestígio de tumor remanescente — as chances de cura em cinco anos ultrapassam 90%. O fato de ela estar em tratamento desde agosto e ainda não ter apresentado metástase é um sinal positivo.
Quais são os efeitos colaterais mais comuns da quimioterapia para esse tipo de câncer?
Além da queda de cabelo, os principais efeitos incluem fadiga extrema, náuseas, perda de apetite e imunidade baixa. Em alguns casos, como o de Roseana, reações alérgicas intensas — como coceira generalizada — podem ocorrer devido a medicamentos como o paclitaxel, usado na quimioterapia. Esses efeitos variam entre pacientes, mas são gerenciáveis com suporte médico adequado.
Por que o diagnóstico precoce é tão crucial nesses casos?
No câncer triplo negativo, o tamanho do tumor e a ausência de metástase são os fatores mais determinantes para o sucesso do tratamento. Tumores menores que 2 cm e sem envolvimento de gânglios linfáticos têm taxas de cura acima de 80% com tratamento adequado. Já nos casos avançados, a sobrevida cai para menos de 30%. Por isso, mamografias anuais e autoexames são essenciais — especialmente para mulheres acima de 40 anos ou com histórico familiar.
Como o apoio emocional influencia o tratamento do câncer?
Estudos da Sociedade Brasileira de Oncologia mostram que pacientes com forte rede de apoio — seja familiar, social ou virtual — têm maior adesão ao tratamento, menos depressão e até melhor resposta imunológica. As mensagens que Roseana recebe não são só carinho: são um estímulo biológico. A sensação de pertencimento reduz o cortisol, o hormônio do estresse, e ajuda o corpo a responder melhor à quimioterapia.
O que o caso de Roseana Sarney revela sobre a saúde pública no Brasil?
Ela teve acesso rápido a tratamentos de ponta, incluindo imunoterapia, graças ao seu perfil público e redes de apoio. Mas milhões de mulheres no interior do Maranhão e de outros estados ainda enfrentam filas de meses para mamografias. Seu caso expõe a desigualdade: o diagnóstico precoce não é um direito universal. A visibilidade dela é um grito por equidade — e por políticas públicas que garantam exames e tratamentos para todas, não só para as que têm voz.
1 Comentários
Essa mulher é um exemplo de força que a gente nem sabe como explicar. Ela não tá só lutando por ela, tá lutando por todas nós que já tivemos medo de olhar no espelho e não reconhecer o próprio corpo.
Quando ela falou que perdeu o cabelo e ainda assim se sentiu mais forte, eu chorei no trabalho. Não é só coragem, é revolução.
Se cada mulher que vê esse vídeo vai fazer o exame, já valeu a pena.
Não tem como não se inspirar.